domingo, 22 de maio de 2011

Idas, Vindas e Partidas



À Angélica, Wagner, Caio, Laura e Bia
À Helene Yuri

Há dias estou as voltas com uma palavra engasgada na garganta: Despedida.
Seu gosto indefinido traz uma estranha sensação de aperto no peito, que aparta o que está perto, que porta um insuportável e que parte uma parte de mim.
Saber que a vida também é tecida de despedidas não exime do luto, não previne o sofrer. Cada um há de arcar com sua própria dor.
Algumas despedidas são definitivas:  despede-se do útero da mãe para construir seu próprio caminho, despede-se do útero da vida em destino a um desconhecido. Não há palavras que traduzem as cores desse movimento com perfeição. Vive-se. Morre-se. E basta. Ou não.
E há aquelas idas, vindas e partidas na vida que em suas narrativas de alguma forma também são despedidas:
Deixa-se as brincadeiras da infância para adolescer e, quem sabe, adultecer. Deixa-se o costume da solidão para compartilhar a vida com alguém. Viaja-se para lugares desconhecidos para construir um caminho para a própria vida. Volta-se a lugares conhecidos para desafogar a saudade e alimentar uma amizade. Volta-se a infância ao saborear uma xícara de café quente, bolinhos de chuva ou um frango caipira feito no fogão de lenha. Vai-se para o futuro, de olhos fechados, sonhando com o próprio desejo.
As idas, vidas e partidas com suas próprias despedidas formam uma linha atemporal que transcede o lugar comum do presente. Assim, são as amizades, os afetos e vínculos que se cultivam. Quando carinhosamente cuidados, eles se renovam e ultrapassam o tempo e o espaço com aquela sensação de que foi ontem que estava com você que há anos não vejo.
Esse forte sentimento não é uma ficção científica. É amor que se cultiva e é cultivado com gestos, uma palavra, um olhar, uma mensagem de celular, uma ligação telefônica, uma carta, um presente que se faz presente, um abraço, uma oração. É uma via de mão dupla no trânsito louco da vida, correspondência entre almas no desejo recíproco de se encontrarem e fazerem parte uma da vida da outra.
Assim, a dor da despedida aos poucos dá lugar a novos encontros e a reencontros, a novas amizades e afetos e ao retorno ao aconchego dos abraços de alguém que já fez parte dessa história e permanece no coração. Sempre.
Esse é o movimento da vida.
Bem diz o poeta Vinicius de Morais: "o amigo, um ser que a vida não explica, que só se vai ao ver outro nascer, e o espelho de minha alma multiplica..."

* A foto dessa postagem é de Bia, Laura e Caio, filhos de Angélica e Wagner que nos ensinam que afeto se cultiva. Eles entraram em nossa vida para ficar!

3 comentários:

  1. Meu amor,
    Não há como não fazer dos olhos uma nuvem que esta prestes á respingar gotas de saudade dos olhos ao ler seu texto... angelica, Wagner,Caio, Laura, Bia e Yuri vão levar pedaços de nossos corações para suas "novas vidas". E que bom que é assim !!! Pelo menos, algo de nós viverá neles, ate o encontro para as brincadeiras com as crianças, o café das meninas, e a cerveja e as discussões filosóficas dos compadres!!!

    ResponderExcluir
  2. Tanis, minha grande amiga! Obrigada pelas lindas palavras de afeto e carinho. Saiba que mesmo sendo um tanto quanto "sofrido essa despedida", ela me trouxe uma certeza: de que nossa amizade realmente ultrapassa espaço e tempo, então não há despedida porque não haverá partida, apenas uma pequena mudança nos nossos rotineiros encontros. Tenho orgulho das amizades que construi aqui, e especialmente de todos os momentos que estivemos juntas com gargalhadas, caminhadas, estudos, nos filmes, nos cafés, no trabalho, nas divergências, na família, na cumplicidade... Você é muito especial pra mim, amo vc! Você e Vitinho estão guardados para sempre no meu coração e do Flavinho. Estou aceitando novos desafios que continuarão sendo compartilhados com vcs! Grande beijo!

    ResponderExcluir